15.6.15

Maldito ele


  • Amanheceu mais um dia. Era domingo.
    O dia estava chuvoso, o céu estava nublado; escuro. E assustador.
    Tudo bem, era só mais um domingo tedioso. Sem nada pra fazer, sem lugar para ir. A chuva não impedia de sair, porém, era preferível ficar em casa. Mais uma vez.
    Assistir um filme, comer uma pipoca e tomar chocolate quente. Não precisava de mais nada naquela hora. Aliás, só prestava atenção no filme, algumas vezes me distraia com uns grãos de pipoca, olhava ao meu redor e voltava à assistir o filme.
    Estar sozinha em casa, num domingo como os outros era normal, não precisava de mais nada. Aliás, um chocolate quente substitui um amor.
    Maldito coração, que não o esquecia.
    Mas eu não precisava de um amor, eu precisava de chocolate. E eu o tinha, então eu não precisava de mais nada. Quem disse ? Não confio em palavras, mas não estava as dizendo, estava apenas pensando. Maldito cérebro, que me fazia lembrar.
    Rosa me lembrava amor. Mas o que representa o amor é o vermelho, lembrei.
    Resolvi distrair-me. Saí. Aquele dia nublado, chuvoso, me fez pensar. Merda. Lá estava meu cérebro mais uma vez, relembrando, pensando. Resolvi soltar o guarda-chuva que tinha levado. Rosa. Bonito. Amor. Vermelho, minha cor preferida, a dele também.
    Lembrei-me de uma história que ele havia me contado, sobre os pássaros, ele gostava de aves.
    Vermelho, era a cor da rosa que ele me deu. Maldito guarda-chuva cor de rosa. Senti a chuva molhada escorrendo pelo meu corpo. Sensação deliciosa. Abri meus braços. Girava. Queria voar. Não podia. Os pássaros podem voar.
    Maldito dia chuvoso, que me fez sair de casa para me destrair e acabei pensando.
    Maldito giro que me fazia querer voar, que me fez lembrar do que ele gostava. Ele gostava de voar. Gostava de ser como os pássaros. Livre. Mas pensava que era dona, e como toda dona, achava que podia prendê-lo à mim. E esqueci que não tinha esse poder. Deixei partir. Deixei voar.
    Cheguei em casa, a pipoca estava gelada, o chocolate estava frio, e o filme acabado.
    Maldito guarda-chuva cor de rosa. Outra vez parei de pensar. Tinha que controlar meu cérebro. Não podia pensar. Resolvi voltar pra casa. Mas deixei lá na rua, aquele maldito guarda-chuva, livre. Sentindo a chuva escorregar sobre sí. Deixei abandonado o que me fazia lembrar.
    Maldito cérebro. Maldita rosa.
    Acabado como nosso caso. E eu nem cheguei a ver o final. Resolvi então deitar-me. Minha cama arrumada, com uma coberta rosa. Esqueci do rosa. Rosa pra mim é apenas uma cor. Deitei-me. Virei para o lado, e sobre o criado mudo estava a rosa. A rosa que ele havia me dado. Acabei lembrando, novamente.
    Maldito dia chuvoso, que me fez ficar em casa.
    Eis aí meu motivo de preferir o vermelho. Mas vermelho era a cor da maldita rosa. Da rosa que ele me deu. Acho que no fim, o maldito é ele, que apareceu e depois deixou-me. Abandonada, como o guarda-chuva cor de rosa, que eu deixei. Mas se eu não tivesse saído de casa, não teria deixado o guarda-chuva lá.
    Maldito ele, que me deixou sozinha.

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