7.6.13

O amor e a loucura




Contam que uma vez se reuniram todos os sentimentos e qualidades do homem. Quando o tédio bocejava pela terceira vez, a loucura, como sempre tão louca, propôs: "Vamos jogar Esconde-Esconde?". A curiosidade, sem conseguir se conter, perguntou: "Esconde-Esconde? Como é isso?"
É um jogo, explicou a loucura, em que eu escondo o rosto e começo a contar de um até um milhão, então vocês se escondem, e quando eu terminar de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará o meu lugar para continuar o jogo. O entusiasmo bailou, seguido pela euforia, e a alegria deu tantos saltos que convenceu a dúvida, e inclusive a apatia, que nunca se interessava em nada. Mas, nem todos quiseram participar. A verdade preferiu não esconder-se. Para quê? Se, no final, sempre a achariam? A arrogância achou um jogo muito tonto, mas no fundo o que a chateava era que a ideia não havia sido dela. A covardia preferiu não se arriscar-se.


Um, dois, três... A loucura começou a contar.A primeira a se esconder foi a preguiça, que, como sempre, caiu na primeira pedra do caminho. A subiu aos céus, e a inveja se encontrou atrás da sombra do triunfo, que, pelo seu próprio esforço, havia subido na árvore mais alta.
A generosidade quase não conseguiu esconder-se, cada lugar que encontrava lhe parecia maravilhoso para alguns de seus amigos, que foi, um lago cristalino para a beleza; a raiz de uma árvore: perfeita para a timidez; um tufão de vento: magnífico para a liberdade, e assim acabou se escondendo em um raio de sol.
O egoísmo encontrou um lugar muito bom desde o princípio: ventilado, cômodo, mas apenas para ele. A mentira se escondeu no fundo dos oceanos... MENTIRA, na realidade se escondeu atrás do arco-íris. E a paixão e o desejo no quarto dos vulcões. O esquecimento, me fez esquecer aonde havia se escondido, mas não é importante. Quando a loucura estava contando 999.999, o amor ainda não havia encontrado um lugar para se esconder, pois todos estavam ocupados, até que no final encontrou uma roseira, e decidiu esconder-se entre suas flores e espinhos.
Um milhão... Contou a loucura, e começou a procurar. A primeira a aparecer foi a preguiça, apenas a três passos de uma pedra. Depois, escutou a fé conversando com Deus sobre zoologia. Podia sentir a paixão e o desejo vibrando nos vulcões. Em um descuido encontrou a inveja e, claro, pode deduzir onde estava o triunfo. Ele nem precisou procurar o egoísmo, pois ele mesmo saiu de seu esconderijo, avistando ser um ninho de vespas. De tanto caminhar, sentiu sede e, alcançando o lago, descobriu a beleza. Com a dúvida foi com certeza mais fácil, a encontrou sentada perto dali, sem decidir de que lado esconder-se.
Assim, foi encontrando a todos. O talento, entre a grama fresca. A angústia, em uma cova escura. A mentira, atrás do arco-íris. MENTIRA, ela estava no fundo dos oceanos. E até encontrou o esquecimento, que já havia se esquecido que estava brincando de Esconde-Esconde. Mas só o amor não estava em nenhum lugar. A loucura buscou atrás de cada árvore, debaixo de cada pedra do planeta, em cima das montanhas e, quando estava para dar-se por vencida, avistou uma roseira, pegou um canivete e começou a mexer os ramos de flores. Quando, de repente, um doloroso grito se escutou... Os espinhos haviam ferido os olhos do amor. A loucura não sabia o que fazer para desculpar-se: chorou, rezou, implorou, pediu perdão, e até prometeu ser seu guia.
Então, desde a primeira vez que se jogou Esconde-Esconde na terra, o amor é cego e a loucura sempre o acompanha.

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